Conquistas e perspectivas da greve
As precárias
condições de trabalho, salários com reajustes abaixo da inflação, carreira
desestruturada, sobrecarga de trabalho e o descaso do governo em relação às
reivindicações dos professores resultaram na greve iniciada, em grande parte
das IFES, em maio de 2012. Acompanhando o
movimento nacional, os docentes da UFG vêm construindo a greve na defesa por um
projeto de carreira com valorização salarial e por melhores condições de
trabalho. Apesar de o governo assumir uma postura intransigente ao não negociar
com os professores, a força do movimento (com 57 de 59 IFES paralisando suas
atividades), criou as condições para que as perdas não fossem maiores,
significando algumas conquistas que não podem ser desprezadas. É preciso
assinalar que ainda em maio, portanto, antes da greve, o governo havia
suspendido o Grupo de Trabalho que negociava a carreira e acenava com 0% de
aumento para 2013.
Além dos
evidentes ganhos políticos e acadêmicos da greve no interior da cultura da
universidade, acumulamos as seguintes conquistas resultadas do movimento:
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1)
Uma carreira com
cinco classes e treze níveis, quando governo e PROIFES acenavam para uma
carreira com cinco classes vinte níveis;
2)
Reajustes salariais
que não repõem as perdas inflacionárias acumuladas e futuras, mas que superam o
0% apresentado pelo governo no início do ano;
3)
A reversão da
mudança do cálculo dos adicionais de insalubridade e periculosidade da MP
568/2012, que significava desvalorização econômica e profissional;
4)
Manutenção dos 45
dias de férias no texto do PL do governo;
5)
Retirada
provisória (pois podem retornar nas diretrizes da avaliação de desempenho que
será definida por ato do MEC) das cláusulas de barreira para progressão e promoção
na carreira;
6)
Aumento dos
percentuais do auxílio alimentação e do auxílio saúde;
Essas
conquistas, ainda que tímidas, são resultados da capacidade de organização,
resistência e luta da ampla maioria dos professores das IFES que encontraram na
greve o único mecanismo de estabelecer interlocução com um governo que se portou
de forma autoritária e intransigente na condução das negociações com a
categoria. O movimento paredista evitou que a desestruturação da carreira dos
professores do magistério superior se tornasse mais perversa.
No
entanto, o projeto de lei apresentado pelo governo nessa última semana mantém
vícios já denunciados, como por exemplo: falta de conceitos claros na definição
dos valores dos diferentes níveis, classes e regimes de trabalho, quebrando a
isonomia salarial; separação do cargo de titular do restante da carreira e
falta de clareza sobre as formas de acesso ao cargo e sobre a disposição de
vagas para o mesmo; indicação de um processo de aceleração na carreira, por
meio de concorrência; quebra da autonomia da universidade ao atribuir ao MEC a
regulação e controle da avaliação de desempenho para fins de progressão e
promoção da carreira; e, imprecisão na definição sobre os aposentados. É
necessário registrar que o governo não se dispôs a atender a pauta sobre as
condições de trabalho, jogando para uma comissão de parceiros (ANDIFES e diretoria
da UNE) a tarefa de “discutir” essa questão.
Por essas
razões, os docentes da UFG, junto com outras 52 universidades do país,
decidimos continuar lutando até o dia 31/08, tentando pressionar o governo pela
reabertura das negociações. Hoje, estamos entrando em um cenário marcado por
novas características: quase todas as categorias dos servidores públicos
federais suspenderam a greve e o MPOG enviou o PL de reestruturação da carreira
para o congresso nacional. Uma conquista importante do movimento, foi a
realização de uma Audiência Pública realizada no dia 29/08 na Comissão de
Educação, Cultura e Esportes do Senado que discutiu a greve nas IFE. A
audiência demonstrou que há um grupo de congressistas que estão dispostos a
defender as reivindicações do movimento docente enquanto o PL tramita no
congresso nacional.
Podemos e
devemos continuar lutando para obter algumas conquistas enquanto o PL tramita
no congresso nacional. Mas devemos avaliar como continuar lutando nesse novo
cenário. Como fazer com que os docentes de todo o país se mobilizem da melhor
forma possível para tentar modificar os aspectos mais deletérios do PL?
O CLG
entende que esse novo quadro exige:
a) Manter o grau de organização que os docentes da UFG
conquistaram nessa greve. Graças a essa luta, descobrimos quem está do nosso
lado e quem não está. Por isso, somente pela nossa auto-organização
conseguiremos avançar em nossas lutas, pois, infelizmente, a diretoria da ADUFG
decidiu ficar do lado do PROIFES e do governo;
b) Realizar atos específicos, dialogar com parlamentares
e, assim, pressionar o governo e parlamentares;
c) Sugerir que o CNG indique suspensão unificada da greve
no período entre 10 e 14 de setembro;
d) Sugerir que o CNG forme uma Coordenação Nacional de
Mobilização que servirá para mover a categoria docente para atos, audiências,
reuniões com parlamentares e outras ações que busquem pressionar o governo a
alterar o PL de reestruturação da Carreira;
e) Construir um Fórum de Professores da UFG que servirá
para nos reunirmos e agirmos de forma a fortalecer a luta em defesa de nossa
carreira e por melhores condições de trabalho.
f) Debater o tema da suspensão da greve em nova
assembleia no dia 12/09.
A greve na UFG e o papel da ADUFG e do PROIFES
No âmbito da UFG o início
e o percurso da greve não foram fáceis. A ADUFG, que havia convocado uma
assembleia para discutir e deliberar a respeito das questões da categoria,
abandonou a assembleia de 06/06. Um grupo de professores foi eleito pela
assembleia para assumir a coordenação dos trabalhos e constituir o Comando
Local de Greve (CLG), ao qual a ADUFG se integrou, em 20/06, após várias
tentativas de acordo.
A atual direção da ADUFG, contrariando todos os
princípios autônomos e democráticos de organização sindical, vem pautando suas
ações por uma curiosa e perdulária concepção de sindicato que combate a greve
como instrumento de negociação e busca resultados imediatos por negociações com
o Estado. Assim, a atuação da direção da ADUFG tem como pressuposto o
atendimento dos interesses do governo em detrimento dos professores que compõem
a sua base.
Esses
sindicatos que evitam o debate e o confronto de ideias, se alinham aos
interesses do governo, disponibilizam aos trabalhadores alguns serviços
sociais, organizam campeonatos e fazem festas, secundarizando as pautas
trabalhistas. Hoje, esse tipo de “sindicalismo” age no sentido de afirmar que o
governo é composto de companheiros com os quais se pode contar. Tudo isso
afasta os professores das questões que dizem respeito às relações de trabalho:
reivindicações por melhores salários, plano de carreira que respeite o
princípio da qualidade e as condições de trabalho.
O movimento
docente foi acusado pela ADUFG/PROIFES de desordeiro e ter líderes com
interesses escusos à categoria. Ora, isso é próprio de patrões, de governos e
de dirigentes autoritários. Aliás, essas acusações já foram ouvidas no Brasil
em momentos nada democráticos. Afirmar que “pequenos grupos, representantes
de interesses político-partidários”[1],
tentam se impor ao conjunto dos docentes é pressupor que os professores têm
capacidade limitada de compreensão, são ingênuos e, por isso, facilmente
manobrados. O CLG, por outro lado, foi, desde o início, um espaço democrático,
formado por representantes votados em assembleia, mais dois representantes de
cada unidade da UFG e dois da ADUFG. Quando a ADUFG abandonou a assembleia que
deu início à greve na UFG parece não ter sido outra coisa senão o medo do
debate, do confronto de ideias e de perder o controle do movimento.
Talvez seja por isso que ela insiste tanto em voto eletrônico e voto por
procuração. Vale a pena resgatar o que a ADUFG e o PROIFES fizeram durante essa
greve:
·
Primeiro,
tentaram impedir o surgimento da greve e, depois, com a ajuda de alguns
diretores de unidade passaram a atacar a greve;
·
Desrespeitaram
sistematicamente diversos encaminhamentos das assembleias gerais dos
professores: rejeição da proposta de acordo do governo; fim do repasse
financeiro de nosso dinheiro para o PROIFES; não realizar plebiscitos até o fim
da greve (o que foi firmado em acordo assinado por diversos diretores da
ADUFG); etc.
·
Atacaram, desde o
dia 02/08, a luta nacional pela reabertura de negociações, ou seja, se
posicionaram de forma contrária a qualquer perspectiva de correção da carreira
ou de aumento salarial.
O
governo atual, tanto defendido pelos parceiros ADUFG, PROIFES e, também,
ANDIFES, vem intensificando nas instituições públicas os princípios da gestão
empresarial referentes aos salários: pagam um piso, estabelecido segundo o
produtivismo do mercado. Quando o governo apresenta um plano de reestruturação
da carreira e estabelece uma mínima correção salarial, na prática faz o mesmo
de uma empresa privada: reduzir os custos da manutenção das Universidades,
exigindo-lhes mais produção (de alunos certificados, de projetos, publicações
etc).
Trata-se
de uma política de contenção de gastos que converte a intensificação do
trabalho docente na única alternativa para o professor sobreviver nas condições
precárias de trabalho. Aqueles considerados “mais empreendedores” tentam tornar
a “empresa” (universidade) mais eficiente ganhando um “troco” a mais (bolsas).
Com um projeto – de ensino, pesquisa, extensão ou serviço – o
“professor-empreendedor”, até sem perceber, quase monta uma micro-universidade,
tamanho é o trabalho que envolve o seu projeto e as suas bolsas: fazem
licitação consultando pregões eletrônicos, montam um serviço contábil, prestam
contas às agencias de fomento, pagam bolsas, serviços etc. Se o professor tivesse uma carreira estruturada e valorizada, ele não
precisaria se sacrificar para receber um “troco a mais” e exerceria plenamente
a sua Dedicação Exclusiva.
A rigor,
o governo com esse plano não faz outra coisa senão chamar para si o controle da
produção acadêmica com a criação de um provável sistema que regule tudo e a
todos, como tem feito, por exemplo, com a Pós-Graduação. Essas ações do governo
ferem duramente o preceito constitucional da autonomia universitária e
descaracteriza a natureza crítica, cultural e científica da Universidade.
Mesmo
que a própria realidade cotidiana nas IFES denuncie que esse projeto do governo
é contrário ao projeto de uma Universidade pública, gratuita e de qualidade,
testemunhamos durante a greve a ADUFG-Sindicato e o PROIFES corroborando e
defendendo o governo. Por que as duas entidades sindicais, que deveriam
defender os interesses dos professores, se aferram na defesa intransigente dos
projetos do governo? Quais são os interesses que envolvem governo, PROIFES e
ADUFG, a ponto de fazer com que as organizações sindicais se voltem contra suas
próprias bases? Devemos questionar os fatos!
Estariam certos caso vivêssemos na eminência de um futuro catastrófico. No entanto, a realidade que nos deparamos é bem a oposta.
ResponderExcluirVivemos num país vitimado por anos de exploração das colônias portuguesas, seguidos por mais anos de exploração burguesa, os primeiros passos em direção oposta se deram recentemente, com a expansão universitária provinda do reuni, aliás, vocês endeusam tanto a "autonomia universitária" e esquecem de citar que esta é, em grande parte, também culpada pela precariedade do ensino.
Pelo que eu sei o governo deu propostas de verba pra criação de novos cursos, cabendo a cada instituto a autonomia de dizer o quanto precisavam, se o instituto de química pediu apenas 300 mil para montar o curso de Engenharia Química (quantidade insuficiente pra montar até cursos de licenciatura) foi culpa do governo que não feriu a "autonomia universitária" e não orientou os professores em como proceder.
Depois de toda luta nessa greve, com as atuais propostas do governo, o estado passará a investir 15 bilhões no ensino superior, até ano passado era o quê? 1,5 bi?
É claro que essa conquista foi unicamente graças ao ANDES-SN e os docentes que lutaram na greve, mas creio que exista muito terrorismo proposital nesse último texto. Desculpem a sinceridade.
Mas a realidade que vejo ao menos nos campis de goiânia (não ouso opinar sobre os demais campis uma vez que não os frequento) é sim de uma universidade que está crescendo sustentavelmente, incentivando seus docentes e discentes a produzirem sempre mais, em prol de um futuro melhor para o nosso Brasil, que, diga-se de passagem, mal tem saneamento básico em tantos locais.
É inútil falar de educação de excelência em um país não estruturado... Rico, com carência de mão de obra interessada e qualificada!
mas sem ruas asfaltadas ou rodovias seguras... a Educação deve sim ser prioridade do governo, mas apenas depois de garantir qualidade de vida a todo e qualquer cidadão, pensem nisso!
Muitas pessoas passam fome enquanto lutam contra o "produtivismo do mercado" inimigo mortal da "autonomia universitária".
Existem duas palavras parecidas com significados diferentes: eminência e iminência. O plural de campus é campi (palavra latina)
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