Passados mais de 50 dias do desencadeamento da greve docente, da greve dos técnico-administrativos e da greve dos discentes nas universidades federais. O governo federal, que sempre se negou a negociar1 de forma séria, começa a dar os alardes de que não está disposto nem a negociar, muito menos a atender às reivindicações do movimento paredista.
Inúmeras são as falas dos representantes do governo que apontam nesse sentido. Na semana que passou, por exemplo, fomos brindados com a noticia de que o Ministério do Planejamento não tem agenda para continuar as negociações com os docentes, o que pressupõe que a proposta de negociação prometida na reunião do dia 12/06 entre Ministério do Planejamento e representantes sindicais inexiste, ou está bem guardada à espera de momento oportuno para ser apresentada, tipo: num momento em que o MPOG entenda que tal proposta venha a ser um tiro de misericórdia no movimento grevista.
Um dos argumentos apresentados é a quebra do Estado brasileiro como impeditivo para tomada de medidas que valorizam a educação, segundo fala do Ministro Guido Mantega ao se referir a possível elevação para 10% do PIB aos “investimentos” na educação: "Com essa proposta, o Plano de Educação vai quebrar o Estado brasileiro".
Temos ainda a fala do Ministro Gilberto de Carvalho dizendo que o governo espera "maturidade" dos servidores para entender as dificuldades impostas pelo cenário econômico internacional para a concessão de reajustes e também a fala vazia da própria presidenta da república Dilma Rousseff, afirmando que “O pessoal pode acalmar que as coisas vão para os seus lugares na hora certa”, quando tendo que responder às manifestações de professores e estudantes numa inauguração de Unidade de Pronto Atendimento em São Bernardo do Campo.
E por fim somos agraciados com a orientação do MPOG, em mensagem encaminhada ao setor de recursos humanos das instituições em greve “pela adoção das providências na folha de pagamento para efetuar o corte do ponto referente aos dias parados".
Ou seja, a semana não foi das mais alentadoras e mostra um cenário nada favorável para o movimento grevista.
E ainda se faz necessária a reflexão de que estamos diante de um governo em que os índices de popularidades (ainda que questionáveis) atingiram seu patamar mais elevado desde seu início.
Definitivamente a maré não está para peixe.
No entanto, mesmo em condições tão adversas, temos motivos para dizer que estamos avançando em nossa luta e isso por questões das mais óbvias, quais sejam: 1) se o governo antes vinha se calando diante da greve nas federais agora o mesmo tem se pronunciado – e estamos falando do alto escalão; 2) a mídia que não pautava esse assunto tem trazido a temática para a ordem do dia (mesmo que timidamente) e tem mostrado as manifestações que se dirigem aos governantes, mesmo com poucos manifestantes, e; 3) as posições tem se clarificado nesse cenário, se antes não tínhamos firmeza de qual seria a posição da presidência e de seu alto escalão, as declarações da semana não deixam dúvidas.
Diante do apresentado, pensando avançar na luta sugiro que o movimento docente esteja atento às suas tarefas imediatas de articulação e ação. 1) para que não fiquemos isolados e possamos colocar o governo em xeque, entendo se fazer necessário maior articulação com os outros segmentos em greve, em particular com os técnico-administrativos das universidades; 2) intensificar as manifestações em aparições públicas dos ministros e da presidenta, como bem notamos isso tem colocado os mesmos a fazerem declarações e a mídia a pautar nossa greve e precisamos mais que tudo dar visibilidade a nossa causa; 3) engrossar a Marcha dos SPF’s em Brasília no dia 18/07, isso nos permitirá uma maior articulação com os demais setores grevistas, a intensificação de nossas lutas e um maior poder de pressão sobre o Estado, e; 4) construir a greve nos outros setores do funcionalismo público federal em particular nas instituições de ensino superior que ainda não aderiram à greve.
Saudações insurgentes e até...
Luís Augusto Vieira
Professor do curso de Serviço Social e
Membro do CLG/CCG-UFG
1 Não esqueçamos que o GT Carreira que tem membros do MEC, MPOG, ANDES/SN, PROIFES e SINASEF, estão trabalhando desde 2011, e que as negociações de forma geral também ocorrem desde essa data.
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