Caros
colegas
Hoje não vou me dirigir apenas aos colegas em greve
mas também a estrutura hierárquica de nossas universidades e a
alguns entre nós que se tornaram mais realistas que o rei.
Em
primeiro lugar, há que se observar que o rei está nu. A estrategia
governamental de promover arrocho salarial como parte dos
instrumentos de combate a crise está levando a deterioração dos
indicadores de crescimento e a uma inédita mobilização no interior
do serviço público federal que forçará, como veremos, a concessão
de algum tipo de aumento e/ou abono quase que imediato.
Neste
cenário surge nossa greve, tão obvia pelo descuido com que a panela
de pressão das universidades foi sendo aquecida. Ela nos encontrou
surpreendentemente unidos e falando uma mesma linguagem em toda a
extensão hierárquica de nossas instituições. Conselhos
universitários, reitores e conselhos acadêmicos se juntaram aos
grevistas, suspendendo calendários acadêmicos, recusando-se a
cortar ponto e emitindo notas de apoio.
O governo se fez de morto
até que finalmente apareceu com uma proposta, recusada pela maioria
por ser apenas salarial, basear-se em princípios que não ficaram
claros no cotejamento das justificativas e dos números apresentados
e não tocar na questão da infraestrutura e ser incapaz de perceber
que o movimento docente poderia ser um aliado e não um obstaculo ao
tão justo e desejado processo de expansão do sistema universitário
público e gratuito. A proposta foi corrigida em alguns pontos e
reapresentada e mais uma vez recusada por vasta maioria.
Todos
sabemos que esta greve tem hora para acabar. Ela não poderá se
estender além de 31 de agosto quando termina o período de envio da
lei orçamentária ao Congresso Nacional e começa a ficar
perigosamente provável a perda do período letivo. Somos docentes
responsáveis, estamos na carreira por vocação e jamais
permitiremos isto mas somos corajosos e não temos medo de esticar a
corda ate o limite. Porque então neste momento, quando devemos
seguir juntos, aparecem as vozes do medo travestidas de prudencia?
Será ignorância ou covardia?
A nossa proposta de carreira é
ousada, significa reverter a logica hierárquica do Estado
Brasileira. Ela pressupõe que o trabalho é sempre coletivo e
estruturado em grupos e o que distingue os indivíduos é seu tempo
de experiencia. Isto vai de encontro a tudo que o estado brasileiro
tem pensado sobre nós nas ultimas décadas. No entanto, o atual
governo não apresentou uma proposta organicamente definida por seus
parâmetros hierárquicos e de distinção pessoal mas algo amorfo.
Precisamos de nossos dirigentes universitários para que construamos
uma ponte entre estas duas concepções. Sabemos que a construção
ideal é um processo que deságua na transformação do estado e da
sociedade brasileira, mas podemos ter uma carreira que incorpore
alguns destes parâmetros já.
A divisão neste momento é
catastrófica e não pode ser aceita. Demonstra covardia e falta de
visão e maturidade politica. Não é verdade que não há recursos e
muito menos que se sai da crise poupando. Como podem ser aceitos
argumentos tão toscos?
Peço que os colegas ocupando no momento
posições hierárquicas nas estruturas de nossas instituições não
sejam o cavalo de Troia desta divisão.
Por outro lado, sugiro ao
movimento,que identifique os pontos nevrálgicos para a negociação
e se concentrem nele. Acho que, considerando tudo que já
conquistamos seriam os seguintes:
1. Linha única no
contra-cheque. É nossa garantia maior e de nossos futuros
aposentados
2. Reformatação da tabela apresentada dotando-a de
uma logica de steps, mantendo teto aumentando o piso para o
vencimento da categoria imediatamente superior.Isto não custará
mais que um bilhão de reais
3. Redução para o prazo de vigência
dos aumentos. Qualquer ganho é ganho. Se não conseguirmos tudo em
2013 que seja 2014.
4. Cronograma claro de resolução da
injustiça com os aposentados
5. Apresentação de proposta,
preferencialmente detalhada de recuperação e construção de
infraestrutura adequada para o projeto de expansão do sistema
universitário federal que todos desejamos.
Alcino Ferreira Camara Neto
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