Da esquerda para direita: Hugo Leonardo (FEF), Sílvio Carlos (Fil-Goiás), Fernando Lacerda (FE), Ged Guimarães (FE) e Cássio Tavares (FL) |
Expansão da universidade brasileira, condições de trabalho, divisão do movimento sindical e greve foram alguns dos temas discutidos com professores da Universidade Federal de Goiás (UFG) na quinta-feira, 14, no Jornal Opção. Assuntos que não dizem respeito apenas à comunidade acadêmica, uma vez que o que se produz na universidade retorna à sociedade, seja em forma de profissionais e de conhecimento, seja porque quem sustenta a universidade federal no Brasil são os impostos dos contribuintes. Participaram do debate representantes do Fórum Permanente de Mobilização dos Professores e do Comando de Greve. A Associação dos Docentes da UFG (Adufg) foi convidada para a mesa-redonda, mas declinou do convite.
Sentaram à mesa do debate os professores Cássio Tavares, da Faculdade de Letras; Sílvio Carlos Marinho Ribeiro, da Faculdade de Filosofia do Câmpus da cidade de Goiás; e Fernando Lacerda, da Faculdade de Educação, representando o comando de greve. O Fórum foi representado pelos professores Ged Guimarães, da Faculdade de Educação, e Hugo Leonardo Fonseca da Silva, da Faculdade de Educação Física. Trechos do debate o leitor pode acompanhar abaixo.
Hoje, o movimento sindical dos professores da UFG está dividido pela Adufg, ligada ao Proifes, Fórum de Mobilização dos Professores, independente, e Comando de Greve, vinculado a Andes. Como se deu essa cisão?
Hugo Leonardo — O Fórum começa no mês de maio em função de um conjunto de fatos que vêm se acumulando há mais de uma década, mas, sobretudo, em função do caráter que a Adufg vai assumindo de não debater as pautas sindicais, as condições de trabalho, a carreira e as questões salariais com os professores. Esse caráter começa a se instituir a partir de um modelo categorizado pela Sociologia do Trabalho de sindicalismo de Estado. Nosso sindicato começa a se aproximar da agenda do governo e deixa de dialogar com a categoria. Nesse momento de mobilização nacional, quando várias universidades entram em greve, surge a necessidade de se construir um espaço alternativo ao sindicato, não negando a possibilidade de organização dos professores no sindicato, mas debatendo com os professores a pauta sindical e ampliando um debate além da pauta sindical, para pensar a própria universidade e a política de ensino superior. O Fórum está para além da greve, tanto que não se identifica com o Comando de Greve e tem um papel fundamental na reorganização do movimento docente.
A princípio, as primeiras chamadas do Fórum foram para os professores. Na sequência entendemos que um fórum dentro da universidade não pode se resumir a professores e, hoje, ele tem uma abertura para a comunidade universitária. É possível que haja cerca de 200 professores envolvidos diretamente com o Fórum. A UFG conta com um pouco mais de 3 mil docentes, somando os aposentados.
Cássio Tavares — O Comando de Greve tem uma existência para a circunstância específica da greve. Ele surge por determinação da assembleia que deflagrou a greve (dia 6 de junho). Para garantir a mobilização e a organização do movimento, a assembleia deliberou criar um comando de greve composto por dois professores de cada unidade acadêmica, dois professores de cada câmpus do interior e dois professores indicados pela diretoria da Adufg, que não aceitou o convite de participar. A assembleia indicou um grupo e sete professores para começar o trabalho e ajudar as unidades a se organizarem para a composição completa do Comando.
Hoje, o movimento sindical dos professores da UFG está dividido pela Adufg, ligada ao Proifes, Fórum de Mobilização dos Professores, independente, e Comando de Greve, vinculado a Andes. Como se deu essa cisão?
Hugo Leonardo — O Fórum começa no mês de maio em função de um conjunto de fatos que vêm se acumulando há mais de uma década, mas, sobretudo, em função do caráter que a Adufg vai assumindo de não debater as pautas sindicais, as condições de trabalho, a carreira e as questões salariais com os professores. Esse caráter começa a se instituir a partir de um modelo categorizado pela Sociologia do Trabalho de sindicalismo de Estado. Nosso sindicato começa a se aproximar da agenda do governo e deixa de dialogar com a categoria. Nesse momento de mobilização nacional, quando várias universidades entram em greve, surge a necessidade de se construir um espaço alternativo ao sindicato, não negando a possibilidade de organização dos professores no sindicato, mas debatendo com os professores a pauta sindical e ampliando um debate além da pauta sindical, para pensar a própria universidade e a política de ensino superior. O Fórum está para além da greve, tanto que não se identifica com o Comando de Greve e tem um papel fundamental na reorganização do movimento docente.
A princípio, as primeiras chamadas do Fórum foram para os professores. Na sequência entendemos que um fórum dentro da universidade não pode se resumir a professores e, hoje, ele tem uma abertura para a comunidade universitária. É possível que haja cerca de 200 professores envolvidos diretamente com o Fórum. A UFG conta com um pouco mais de 3 mil docentes, somando os aposentados.
Cássio Tavares — O Comando de Greve tem uma existência para a circunstância específica da greve. Ele surge por determinação da assembleia que deflagrou a greve (dia 6 de junho). Para garantir a mobilização e a organização do movimento, a assembleia deliberou criar um comando de greve composto por dois professores de cada unidade acadêmica, dois professores de cada câmpus do interior e dois professores indicados pela diretoria da Adufg, que não aceitou o convite de participar. A assembleia indicou um grupo e sete professores para começar o trabalho e ajudar as unidades a se organizarem para a composição completa do Comando.
O que ocorreu na assembleia convocada pela Adufg no dia 6 poderia ser evitado e até que ponto a cisão no movimento sindical afeta a mobilização para a greve?
Fernando Lacerda — O que aconteceu no dia 6 poderia ser evitado. Ontem (13), realizamos uma assembleia da mesma magnitude da do dia 6 e foi completamente pacífica e ordeira. Houve muita divergência nos debates, o que é normal, diferentes debates, diversas votações, mas isso não significou o grau de conflituosidade que existiu no dia 6. Naquele dia, a diretoria da Adufg não tinha disposição de participar da assembleia. O que assistimos no dia 6, e os atos posteriores foram reforçando isso, é que a atitude da Adufg era de evitar a construção da greve. A partir do momento em que se avalia que a assembleia não aprovaria aquela posição, criou-se um fato político que justificaria a retirada da assembleia. Não estou dizendo que os únicos responsáveis pelo conflito foram os integrantes da diretoria da Adufg, já que um conflito não existe sozinho, estavam outros sujeitos implicados no tumulto. Mas os provocadores, os agentes que levaram ao conflito foram fundamentalmente os integrantes da diretoria da Adufg. Primeiro com uma secretaria desorganizada. Para uma assembleia com mais de 400 professores colocaram apenas duas pessoas para secretariar o credenciamento dos participantes. Segundo, reservaram um auditório pequeno para a assembleia. Estava agendado um auditório com capacidade para 200 pessoas e, depois, foram para o da Emac, que acabou concentrando ali uma quantidade de pessoas muito maior que a capacidade do local. A implicação para o movimento é que, apesar dos esforços do comando local de greve para tentar reunificar e restabelecer uma certa unidade no movimento docente da UFG, a diretoria da Adufg vem numa atitude de ignorar completamente um setor expressivo da universidade. A associação ignora o fato de mais de 50% das unidades da UFG já estarem em greve. Essa divisão que vem sendo sustentada de uma forma profundamente sectária e autocrática pela diretoria da Adufg atinge os próprios professores, que não contam com a unidade e isso enfraquece o movimento e fragiliza nossa força para reivindicar as bandeiras que estão associadas à greve.
Silvio Carlos — A Adufg vem divulgando que os professores do Câmpus de Goiás seriam os principais protagonistas do conflito que aconteceu na assembleia ou, pelo menos, os provocadores. A princípio, disseram que os professores fizeram ameaças à mesa diretiva, mas não houve tais ameaças. Houve apresentação da proposta de que os não-filiados pudessem participar das discussões sobre a greve e, posteriormente, a diretora utilizou de uma forma tendenciosa o termo ameaça e fez uso desse fato para arrumar um bode expiatório para a decisão, que foi muito conveniente para eles porque o interesse era abortar o debate. Os professores que fizeram a proposta são filiados e têm todo o direito de apresentar tal proposta porque, no estatuto da Adufg, não há nenhuma cláusula que exclua os professores não-filiados de participação na assembleia. Todos professores filiados têm direito a voto. Considerando a soberania da assembleia e o direito de propor, os professores sindicalizados do câmpus Goiás fizeram a proposta e o acirramento dos ânimos provocado pelo pedido mal-educado da presidente é que provocou a confusão.
Fernando Lacerda — O que aconteceu no dia 6 poderia ser evitado. Ontem (13), realizamos uma assembleia da mesma magnitude da do dia 6 e foi completamente pacífica e ordeira. Houve muita divergência nos debates, o que é normal, diferentes debates, diversas votações, mas isso não significou o grau de conflituosidade que existiu no dia 6. Naquele dia, a diretoria da Adufg não tinha disposição de participar da assembleia. O que assistimos no dia 6, e os atos posteriores foram reforçando isso, é que a atitude da Adufg era de evitar a construção da greve. A partir do momento em que se avalia que a assembleia não aprovaria aquela posição, criou-se um fato político que justificaria a retirada da assembleia. Não estou dizendo que os únicos responsáveis pelo conflito foram os integrantes da diretoria da Adufg, já que um conflito não existe sozinho, estavam outros sujeitos implicados no tumulto. Mas os provocadores, os agentes que levaram ao conflito foram fundamentalmente os integrantes da diretoria da Adufg. Primeiro com uma secretaria desorganizada. Para uma assembleia com mais de 400 professores colocaram apenas duas pessoas para secretariar o credenciamento dos participantes. Segundo, reservaram um auditório pequeno para a assembleia. Estava agendado um auditório com capacidade para 200 pessoas e, depois, foram para o da Emac, que acabou concentrando ali uma quantidade de pessoas muito maior que a capacidade do local. A implicação para o movimento é que, apesar dos esforços do comando local de greve para tentar reunificar e restabelecer uma certa unidade no movimento docente da UFG, a diretoria da Adufg vem numa atitude de ignorar completamente um setor expressivo da universidade. A associação ignora o fato de mais de 50% das unidades da UFG já estarem em greve. Essa divisão que vem sendo sustentada de uma forma profundamente sectária e autocrática pela diretoria da Adufg atinge os próprios professores, que não contam com a unidade e isso enfraquece o movimento e fragiliza nossa força para reivindicar as bandeiras que estão associadas à greve.
Silvio Carlos — A Adufg vem divulgando que os professores do Câmpus de Goiás seriam os principais protagonistas do conflito que aconteceu na assembleia ou, pelo menos, os provocadores. A princípio, disseram que os professores fizeram ameaças à mesa diretiva, mas não houve tais ameaças. Houve apresentação da proposta de que os não-filiados pudessem participar das discussões sobre a greve e, posteriormente, a diretora utilizou de uma forma tendenciosa o termo ameaça e fez uso desse fato para arrumar um bode expiatório para a decisão, que foi muito conveniente para eles porque o interesse era abortar o debate. Os professores que fizeram a proposta são filiados e têm todo o direito de apresentar tal proposta porque, no estatuto da Adufg, não há nenhuma cláusula que exclua os professores não-filiados de participação na assembleia. Todos professores filiados têm direito a voto. Considerando a soberania da assembleia e o direito de propor, os professores sindicalizados do câmpus Goiás fizeram a proposta e o acirramento dos ânimos provocado pelo pedido mal-educado da presidente é que provocou a confusão.
A presidente da Adufg, professora Rosana Borges, afirmou que não reconhece a greve porque não há greve sem participação do sindicato. A greve é ilegal?
Hugo Leonardo – A Adufg não é o demiurgo da história e nesse sentido a própria legislação que define as greves no País observa que quem deflagra greve são os trabalhadores de uma base e não o sindicato. Os trabalhadores de uma categoria são filiados e não-filiados a sindicatos, isso é uma decisão do Supremo Tribunal Federal. A Adufg se coloca como agente autocrático, ignorando a categoria e os professores com a perspectiva de que o único sujeito capaz de deflagrar uma greve é uma diretoria de sindicato. Eles se equivocam na leitura do próprio estatuto da Adufg e se equivocam na leitura da legislação sobre greve. O Comando de Greve lamenta o que ocorreu durante a assembleia, entende que houve um equívoco e, independemente disso, uma assembleia deflagrou a greve. Não foi um comando, não foi um grupo, foi uma assembleia com mais de 300 professores. De fato a divisão do movimento enfraquece a possibilidade de unificação e fortalecimento da greve. Mas deve-se pensar que a greve não é dos professores da UFG, é uma greve dos professores da universidade federal brasileira. Nesse sentido, já estamos em uma greve muito forte, com mais de 50 instituições federais. A UFG entra muito tardiamente, mas entra com alguma força. Ontem (13) tivemos uma assembleia com mais de 320 professores e por mais que tenha se deflagrado todo esse conflito a greve ainda está fortalecida.
Qual a avaliação que o Fórum e Comando de Greve fazem do resultado do plebiscito da Adufg, que convocou a greve para o dia 18?
Cássio Tavares — O Comando ainda não discutiu o resultado, mas penso que a diretoria da Adufg acredita que pode unificar o movimento e assumir o protagonismo da paralisação a partir desse plebiscito. Se for esse o caso ela está muito equivocada porque o caminho que ela escolheu reproduz aquilo que foi rejeitado no dia 6 e que levou a toda confusão, ou seja, divide a categoria porque o plebiscito é de filiados. Aquela exclusão dos não-filiados, que foi rejeitada no dia 6, é sacramentada por intermédio do plebiscito. É necessário tentar o diálogo, mas para esse diálogo vamos enfrentar resistências. Porém, mais importante que o diálogo vai ser os rumos que a própria base for tomando. O fato da Adufg ter recusado o convite para vir aqui é mais uma evidência que eles não querem o diálogo.
Fernando Lacerda – Muitos professores que já estão em greve se negaram a votar no plebiscito porque entendiam que não seria necessário votar para entrar em greve de novo. Mesmo assim, um setor da categoria expressou a necessidade da greve. Isso mostra, diferentemente do que a diretora da Adufg vinha mostrando, que a luta pela greve não é ato de grupelhos, de estrangeiros, de um bando de cães loucos. É um anseio dos professores e o plebiscito reafirma isso. O curioso do plebiscito é que a (Rosana Borges) está fazendo história ao propor pela primeira vez uma greve sem a realização de uma assembleia, já que ela afirma que não houve assembleia com os professores.
Hugo Leonardo – A Adufg não é o demiurgo da história e nesse sentido a própria legislação que define as greves no País observa que quem deflagra greve são os trabalhadores de uma base e não o sindicato. Os trabalhadores de uma categoria são filiados e não-filiados a sindicatos, isso é uma decisão do Supremo Tribunal Federal. A Adufg se coloca como agente autocrático, ignorando a categoria e os professores com a perspectiva de que o único sujeito capaz de deflagrar uma greve é uma diretoria de sindicato. Eles se equivocam na leitura do próprio estatuto da Adufg e se equivocam na leitura da legislação sobre greve. O Comando de Greve lamenta o que ocorreu durante a assembleia, entende que houve um equívoco e, independemente disso, uma assembleia deflagrou a greve. Não foi um comando, não foi um grupo, foi uma assembleia com mais de 300 professores. De fato a divisão do movimento enfraquece a possibilidade de unificação e fortalecimento da greve. Mas deve-se pensar que a greve não é dos professores da UFG, é uma greve dos professores da universidade federal brasileira. Nesse sentido, já estamos em uma greve muito forte, com mais de 50 instituições federais. A UFG entra muito tardiamente, mas entra com alguma força. Ontem (13) tivemos uma assembleia com mais de 320 professores e por mais que tenha se deflagrado todo esse conflito a greve ainda está fortalecida.
Qual a avaliação que o Fórum e Comando de Greve fazem do resultado do plebiscito da Adufg, que convocou a greve para o dia 18?
Cássio Tavares — O Comando ainda não discutiu o resultado, mas penso que a diretoria da Adufg acredita que pode unificar o movimento e assumir o protagonismo da paralisação a partir desse plebiscito. Se for esse o caso ela está muito equivocada porque o caminho que ela escolheu reproduz aquilo que foi rejeitado no dia 6 e que levou a toda confusão, ou seja, divide a categoria porque o plebiscito é de filiados. Aquela exclusão dos não-filiados, que foi rejeitada no dia 6, é sacramentada por intermédio do plebiscito. É necessário tentar o diálogo, mas para esse diálogo vamos enfrentar resistências. Porém, mais importante que o diálogo vai ser os rumos que a própria base for tomando. O fato da Adufg ter recusado o convite para vir aqui é mais uma evidência que eles não querem o diálogo.
Fernando Lacerda – Muitos professores que já estão em greve se negaram a votar no plebiscito porque entendiam que não seria necessário votar para entrar em greve de novo. Mesmo assim, um setor da categoria expressou a necessidade da greve. Isso mostra, diferentemente do que a diretora da Adufg vinha mostrando, que a luta pela greve não é ato de grupelhos, de estrangeiros, de um bando de cães loucos. É um anseio dos professores e o plebiscito reafirma isso. O curioso do plebiscito é que a (Rosana Borges) está fazendo história ao propor pela primeira vez uma greve sem a realização de uma assembleia, já que ela afirma que não houve assembleia com os professores.
A proximidade do Proifes com o governo federal está na raiz dessa divisão do movimento sindical das universidades federais?
Cássio Tavares — Da minha perspectiva não. Existem pessoas ligadas ao Proifes e ao Andes que estão na base do movimento. Acho que essa não é a questão fundamental. Prova disso é que universidades da base do Proifes e do Andes entraram em greve.
Cássio Tavares — Da minha perspectiva não. Existem pessoas ligadas ao Proifes e ao Andes que estão na base do movimento. Acho que essa não é a questão fundamental. Prova disso é que universidades da base do Proifes e do Andes entraram em greve.
Qual avaliação que os dois movimentos fazem do Proifes?
Fernando Lacerda — As universidades que possuem sindicatos federados ao Proifes foram entidades que entraram em greve atropeladas pela base. O Proifes tem uma resistência muito grande a entrar em greve e não é pelo fato de os filiados não quererem greve e serem governistas, mas porque os dirigentes do Proifes são descaradamente governistas, quando não ligados ao governo. Gil Vicente, diretor do Proifes, recebeu R$ 25 mil do governo federal em 2009 para realizar um estudo para reestruturação da carreira. Esse estudo foi a base para o plano de carreira que resultou na greve dos professores. As diferenças do Proifes são pontuais em relação ao projeto. Há uma relação umbilical entre setores do Proifes, mas não da base, com o governo federal. A própria prática do Proifes, na entrada da greve, mostra uma lógica totalmente distinta do que caracteriza o movimento dos professores. O Proifes é contrário a formação de comandos locais de greve, ou seja, são contrários a entrada da base no movimento grevista.
Fernando Lacerda — As universidades que possuem sindicatos federados ao Proifes foram entidades que entraram em greve atropeladas pela base. O Proifes tem uma resistência muito grande a entrar em greve e não é pelo fato de os filiados não quererem greve e serem governistas, mas porque os dirigentes do Proifes são descaradamente governistas, quando não ligados ao governo. Gil Vicente, diretor do Proifes, recebeu R$ 25 mil do governo federal em 2009 para realizar um estudo para reestruturação da carreira. Esse estudo foi a base para o plano de carreira que resultou na greve dos professores. As diferenças do Proifes são pontuais em relação ao projeto. Há uma relação umbilical entre setores do Proifes, mas não da base, com o governo federal. A própria prática do Proifes, na entrada da greve, mostra uma lógica totalmente distinta do que caracteriza o movimento dos professores. O Proifes é contrário a formação de comandos locais de greve, ou seja, são contrários a entrada da base no movimento grevista.
Qual a filiação partidária de vocês?
Cássio Tavares — Nenhuma
Fernando Lacerda — PSol
Ged Guimarães — PT
Silvio Carlos — nenhuma
Hugo Leonardo — PCB
Cássio Tavares — Nenhuma
Fernando Lacerda — PSol
Ged Guimarães — PT
Silvio Carlos — nenhuma
Hugo Leonardo — PCB
A partidarização das entidades sindicais, como ocorre no Proifes e na Adug, tem impacto nas deliberações?
Fernando Lacerda — O direito de filiação partidária qualquer um tem e não tem problema algum. O problema ocorre quando os partidos começam a aparelhar os movimentos e as entidades sindicais. A crítica que se faz a Adufg é que a pergunta central não é quais são os anseios da categoria, mas se isso favorece ou não a construção partidária ou o governo. Somente depois vão olhar os anseios da categoria.
Cássio Tavares — O Comando de Greve conta com mais de 30 componentes e 90% dos integrantes eu não tenho sequer ideia de quais são as simpatias partidárias. E seria capaz de apostar que a maior parte do Comando não tem filiação partidária.
Ged Guimarães — O que nos unifica é a causa maior, da universidade, dos princípios que sempre defendemos, da universidade pública, gratuita, de qualidade. E quando isso é ferido, todas as forças políticas, filiadas ou não, se sentem incomodadas. O Fórum não é apartidário, mas é suprapartidário porque tem uma causa maior.
Hugo Leonardo — A partidarização é histórica nos movimentos sindicais e vem sendo debatida política e academicamente de diversos modos e enfoques. A suposta partidarização, como vem sido veiculado na mídia, procura desfocar o que é central no movimento. O que caracteriza o movimento grevista não é uma disputa de grupos partidários, mas a insustentabilidade das condições de trabalho, de um projeto de carreira que destrói aquilo que a gente pretende como projeto de universidade no País.
Fernando Lacerda — O direito de filiação partidária qualquer um tem e não tem problema algum. O problema ocorre quando os partidos começam a aparelhar os movimentos e as entidades sindicais. A crítica que se faz a Adufg é que a pergunta central não é quais são os anseios da categoria, mas se isso favorece ou não a construção partidária ou o governo. Somente depois vão olhar os anseios da categoria.
Cássio Tavares — O Comando de Greve conta com mais de 30 componentes e 90% dos integrantes eu não tenho sequer ideia de quais são as simpatias partidárias. E seria capaz de apostar que a maior parte do Comando não tem filiação partidária.
Ged Guimarães — O que nos unifica é a causa maior, da universidade, dos princípios que sempre defendemos, da universidade pública, gratuita, de qualidade. E quando isso é ferido, todas as forças políticas, filiadas ou não, se sentem incomodadas. O Fórum não é apartidário, mas é suprapartidário porque tem uma causa maior.
Hugo Leonardo — A partidarização é histórica nos movimentos sindicais e vem sendo debatida política e academicamente de diversos modos e enfoques. A suposta partidarização, como vem sido veiculado na mídia, procura desfocar o que é central no movimento. O que caracteriza o movimento grevista não é uma disputa de grupos partidários, mas a insustentabilidade das condições de trabalho, de um projeto de carreira que destrói aquilo que a gente pretende como projeto de universidade no País.
Expansão da universidade federal brasileira
A UFG planejou melhor sua expansão e não sofre com os problemas de falta de estrutura e de professores que outras universidades se ressentem?
Silvio Carlos — Essa afirmação é falsa. No câmpus de Goiás, temos problemas de falta de professores, de infraestrutura, não temos espaço físico, não temos auditório, faltam salas de aula. Com muito custo conseguimos construir um prédio, que foi inaugurado este ano e não atende todos os cursos. Logo vão iniciar outro curso e vai faltar professores porque a quantidade de vagas que o Reuni oferece para professores não consegue suprir as demandas. O último curso aprovado foi Administração e para esse curso existem oito vagas para professores e uma quantidade imensa de disciplinas. O que estamos vivenciando em Goiás é a precarização.
Ged Guimarães — Em relação ao Reuni, o câmpus de Goiânia talvez esteja um pouco mais aliviado. A UFG se adiantou para implantar o Reuni e garantiu, pelo menos para os câmpus I e II de Goiânia, algumas condições mais favoráveis em relação aos câmpus do interior. A UFG de Goiânia tem uma quantidade significativa de prédios concluídos e outros quase concluídos, não tem faltado professores aqui e com isso podemos garantir que, no Câmpus Goiânia, não há muitos problemas em relação à implantação do Reuni. Apenas problemas pontuais. Os servidores técnico-administrativos que são o problema crucial da universidade e atinge todos os câmpus. O número de servidores para atender essa expansão da UFG não tem sido correspondente e muitos estão sobrecarregados com o excesso de trabalho.
Cássio Tavares — A UFG, nesse aspecto, não é atípica. Apesar de ter se adiantado e se organizado melhor que outras federais, esse é um padrão típico: os câmpus-sedes estão melhores estruturados em relação ao Reuni que os do interior. Esse é um padrão nacional. Por outro lado, a média de professor por aluno aumentou em função do Reuni. No caso da UFG sede o déficit de funcionários é muito grande e a consequência disso também precariza o trabalho do docente, porque os professores acabam tendo que assumir tarefas administrativas que normalmente seriam realizadas pelo pessoal de apoio, liberando o professor para a atividade propriamente acadêmica. Apesar de uma aparente situação melhor da UFG, se formos analisar com cuidado vamos ver que também sofremos com o processo de precarização.
Hugo Leonardo — É preciso observar que as próprias leituras se diferem a respeito das condições da realidade da reestruturação da universidade em função do Reuni. Uma leitura mais correta, diferente dos dados que a Reitoria divulga, exige um aprofundamento, o que seria a tarefa do Observatório do Reuni que foi instalado pelo Andes — Sindicato Nacional e que aqui não acompanha. Temos dados precisos de outras universidades e em Goiás temos apenas os oficiais da Reitoria, que apresenta dados muito bem qualificados de que estamos em melhores condições que outros câmpus. É possível que isso aconteça, mas é preciso observar que existem diferentes processos de desenvolvimento dentro da UFG em relação ao Reuni e é preciso que se peguem as particularidades de cada unidade e se observe como isso se apresenta na totalidade. Em Goiânia, tem quadros de precarização gravíssimos, falta de sala de aula, número de turmas extremamente excessivo, o déficit de técnicos em relação ao número de estudantes que aumentou é altíssimo, a própria política de assistência estudantil não acompanha a expansão e os estudantes que entraram têm muita dificuldade de se manterem na universidade. Algumas unidades conseguem estabelecer melhores condições de organização do trabalho e outras não têm condições nenhuma. A Faculdade de Artes criou mais dois cursos e conta com um quadro muito restrito de professores, que acabam tendo que dar conta, além dos cursos regulares, dos cursos à distância, que é parte do projeto de expansão das universidades e que também precarizam o trabalho porque acumulam ações dos docentes num quadro de precarização e de inexistência de reposição dos técnicos. É grave o quadro do Reuni e carece de uma discussão mais avançada porque implica a precarização do trabalho e os professores, se não têm os dados empíricos, sentem na pele as dificuldades de realizar o trabalho acadêmico nessas condições. É importante compreender que não é possível discutir a universidade pelo cálculo da economia, e praticamente todas as reformas do ensino superior que vêm sendo feitas têm sido traduzidas a partir de uma leitura das teorias econômicas para o campo educativo.
Por que faltam recursos para a universidade?
Fernando Lacerda – É preciso questionar essa falta de recurso para a Educação. No ano passado, assistimos a uma campanha nacional, na qual diversos setores defenderam a destinação de 10% do PIB para a Educação. Se compararmos o que os professores defendiam e o orçamento efetivamente executado em 2011, 2,9% do PIB, a questão não é se existe recurso no Brasil para a Educação, mas qual a prioridade do governo. Se é enriquecer banqueiros, detentores de títulos da dívida ou o investimento na Educação.
Cássio Tavares — Por trás de todas essas medidas e projetos do governo existe uma concepção: o que significa qualidade dentro desse modelo que está sendo aplicado. Dentro dessa concepção, o financiamento da operacionalização de uma universidade se dá de acordo com certos critérios de qualidade. A universidade que tiver melhores resultados é premiada. Se tem bons resultados, recebe mais verbas e, teoricamente, isso faria com que as universidades que estivessem em pior situação corressem atrás do resultado para obter mais verbas. Mas como esse resultado é calculado? Existe uma fórmula complicada que calcula o resultado da universidade e entre os fatores que compõem o cálculo da fórmula estão, por exemplo, o índice de retenção e o tempo que o aluno demora para se formar. Nós recebemos alunos do ensino médio com problemas de formação, eles vêm com dificuldades muito maiores que vinham no passado, e temos que aprovar esse aluno senão ficamos com a avaliação ruim. Qual é o resultado que estamos produzindo? Essa mesma concepção empresarial de avaliação por resultado, em que o resultado é o diploma e não a qualidade do aprendizado, está presente no ensino médio e na educação básica. As escolas que não aprovam não recebem verbas. A crítica fundamental que deve ser feita à concepção de ensino do governo é que está baseada em critérios econômicos e não em critérios acadêmicos. Sintoma disso: a negociação da carreira do docente é no Ministério do Planejamento e não no da Educação, o ministro da Educação é um economista. Isso não é casual, é sintomático. Por trás desse projeto de educação terciária existe uma concepção que está em toda educação brasileira e não só na universidade.
Hugo Leonardo — Fundamentalmente três elementos dos princípios econômicos são apresentados como organizativos da universidade: o princípio da eficiência e eficácia baseado na avaliação dos resultados, fundamentalmente organizado pela economia de recursos – quanto menos recurso investir e quanto mais eficaz a universidade é em produzir diplomados, mas eficiente ela se torna para o suposto sistema de ensino universitário brasileiro. E estou chamando de suposto porque ainda não há um sistema de ensino superior com diretrizes unificadas no País. Existe uma organização do ensino superior a partir de diferentes experiências e a própria Lei de Diretrizes Básicas (LDB) garante isso. A LDB entende que o ensino superior é organizado por universidades, centros de ensino e faculdades isoladas. A perspectiva de que as universidades esvaziem a produção de conhecimento e se tornem um lugar de formação de força de trabalho para o mercado traz em si uma perspectiva orientada pelos organismos multilaterais, mas, sobretudo pela Organização Mundial do Comércio (OMC), que entende que as universidades ou o ensino é uma commodity, portanto uma mercadoria, e que é preciso diversificar dentro da geografia internacional de acordo com a orientação da divisão internacional do trabalho acadêmico. Nesse sentido, no Brasil, teríamos pequenos centros de excelência de pesquisa e um conjunto de faculdades e universidade que consumiriam o conhecimento produzido nos grandes centros brasileiro e internacionais e não produziriam conhecimento algum. Do ponto de vista estratégico de governo, de desenvolvimento e soberania nacional, que é o que o governo atual apresenta como orientação, é deletério um projeto de esvaziamento da universidade, de sua lógica de produção de conhecimento, da formação da universidade brasileira a partir de uma racionalidade economicista. Isto já está em processo, mas é fundamental que seus princípios de ensino, pesquisa e extensão se mantenham, inclusive da perspectiva do próprio governo.
A UFG planejou melhor sua expansão e não sofre com os problemas de falta de estrutura e de professores que outras universidades se ressentem?
Silvio Carlos — Essa afirmação é falsa. No câmpus de Goiás, temos problemas de falta de professores, de infraestrutura, não temos espaço físico, não temos auditório, faltam salas de aula. Com muito custo conseguimos construir um prédio, que foi inaugurado este ano e não atende todos os cursos. Logo vão iniciar outro curso e vai faltar professores porque a quantidade de vagas que o Reuni oferece para professores não consegue suprir as demandas. O último curso aprovado foi Administração e para esse curso existem oito vagas para professores e uma quantidade imensa de disciplinas. O que estamos vivenciando em Goiás é a precarização.
Ged Guimarães — Em relação ao Reuni, o câmpus de Goiânia talvez esteja um pouco mais aliviado. A UFG se adiantou para implantar o Reuni e garantiu, pelo menos para os câmpus I e II de Goiânia, algumas condições mais favoráveis em relação aos câmpus do interior. A UFG de Goiânia tem uma quantidade significativa de prédios concluídos e outros quase concluídos, não tem faltado professores aqui e com isso podemos garantir que, no Câmpus Goiânia, não há muitos problemas em relação à implantação do Reuni. Apenas problemas pontuais. Os servidores técnico-administrativos que são o problema crucial da universidade e atinge todos os câmpus. O número de servidores para atender essa expansão da UFG não tem sido correspondente e muitos estão sobrecarregados com o excesso de trabalho.
Cássio Tavares — A UFG, nesse aspecto, não é atípica. Apesar de ter se adiantado e se organizado melhor que outras federais, esse é um padrão típico: os câmpus-sedes estão melhores estruturados em relação ao Reuni que os do interior. Esse é um padrão nacional. Por outro lado, a média de professor por aluno aumentou em função do Reuni. No caso da UFG sede o déficit de funcionários é muito grande e a consequência disso também precariza o trabalho do docente, porque os professores acabam tendo que assumir tarefas administrativas que normalmente seriam realizadas pelo pessoal de apoio, liberando o professor para a atividade propriamente acadêmica. Apesar de uma aparente situação melhor da UFG, se formos analisar com cuidado vamos ver que também sofremos com o processo de precarização.
Hugo Leonardo — É preciso observar que as próprias leituras se diferem a respeito das condições da realidade da reestruturação da universidade em função do Reuni. Uma leitura mais correta, diferente dos dados que a Reitoria divulga, exige um aprofundamento, o que seria a tarefa do Observatório do Reuni que foi instalado pelo Andes — Sindicato Nacional e que aqui não acompanha. Temos dados precisos de outras universidades e em Goiás temos apenas os oficiais da Reitoria, que apresenta dados muito bem qualificados de que estamos em melhores condições que outros câmpus. É possível que isso aconteça, mas é preciso observar que existem diferentes processos de desenvolvimento dentro da UFG em relação ao Reuni e é preciso que se peguem as particularidades de cada unidade e se observe como isso se apresenta na totalidade. Em Goiânia, tem quadros de precarização gravíssimos, falta de sala de aula, número de turmas extremamente excessivo, o déficit de técnicos em relação ao número de estudantes que aumentou é altíssimo, a própria política de assistência estudantil não acompanha a expansão e os estudantes que entraram têm muita dificuldade de se manterem na universidade. Algumas unidades conseguem estabelecer melhores condições de organização do trabalho e outras não têm condições nenhuma. A Faculdade de Artes criou mais dois cursos e conta com um quadro muito restrito de professores, que acabam tendo que dar conta, além dos cursos regulares, dos cursos à distância, que é parte do projeto de expansão das universidades e que também precarizam o trabalho porque acumulam ações dos docentes num quadro de precarização e de inexistência de reposição dos técnicos. É grave o quadro do Reuni e carece de uma discussão mais avançada porque implica a precarização do trabalho e os professores, se não têm os dados empíricos, sentem na pele as dificuldades de realizar o trabalho acadêmico nessas condições. É importante compreender que não é possível discutir a universidade pelo cálculo da economia, e praticamente todas as reformas do ensino superior que vêm sendo feitas têm sido traduzidas a partir de uma leitura das teorias econômicas para o campo educativo.
Por que faltam recursos para a universidade?
Fernando Lacerda – É preciso questionar essa falta de recurso para a Educação. No ano passado, assistimos a uma campanha nacional, na qual diversos setores defenderam a destinação de 10% do PIB para a Educação. Se compararmos o que os professores defendiam e o orçamento efetivamente executado em 2011, 2,9% do PIB, a questão não é se existe recurso no Brasil para a Educação, mas qual a prioridade do governo. Se é enriquecer banqueiros, detentores de títulos da dívida ou o investimento na Educação.
Cássio Tavares — Por trás de todas essas medidas e projetos do governo existe uma concepção: o que significa qualidade dentro desse modelo que está sendo aplicado. Dentro dessa concepção, o financiamento da operacionalização de uma universidade se dá de acordo com certos critérios de qualidade. A universidade que tiver melhores resultados é premiada. Se tem bons resultados, recebe mais verbas e, teoricamente, isso faria com que as universidades que estivessem em pior situação corressem atrás do resultado para obter mais verbas. Mas como esse resultado é calculado? Existe uma fórmula complicada que calcula o resultado da universidade e entre os fatores que compõem o cálculo da fórmula estão, por exemplo, o índice de retenção e o tempo que o aluno demora para se formar. Nós recebemos alunos do ensino médio com problemas de formação, eles vêm com dificuldades muito maiores que vinham no passado, e temos que aprovar esse aluno senão ficamos com a avaliação ruim. Qual é o resultado que estamos produzindo? Essa mesma concepção empresarial de avaliação por resultado, em que o resultado é o diploma e não a qualidade do aprendizado, está presente no ensino médio e na educação básica. As escolas que não aprovam não recebem verbas. A crítica fundamental que deve ser feita à concepção de ensino do governo é que está baseada em critérios econômicos e não em critérios acadêmicos. Sintoma disso: a negociação da carreira do docente é no Ministério do Planejamento e não no da Educação, o ministro da Educação é um economista. Isso não é casual, é sintomático. Por trás desse projeto de educação terciária existe uma concepção que está em toda educação brasileira e não só na universidade.
Hugo Leonardo — Fundamentalmente três elementos dos princípios econômicos são apresentados como organizativos da universidade: o princípio da eficiência e eficácia baseado na avaliação dos resultados, fundamentalmente organizado pela economia de recursos – quanto menos recurso investir e quanto mais eficaz a universidade é em produzir diplomados, mas eficiente ela se torna para o suposto sistema de ensino universitário brasileiro. E estou chamando de suposto porque ainda não há um sistema de ensino superior com diretrizes unificadas no País. Existe uma organização do ensino superior a partir de diferentes experiências e a própria Lei de Diretrizes Básicas (LDB) garante isso. A LDB entende que o ensino superior é organizado por universidades, centros de ensino e faculdades isoladas. A perspectiva de que as universidades esvaziem a produção de conhecimento e se tornem um lugar de formação de força de trabalho para o mercado traz em si uma perspectiva orientada pelos organismos multilaterais, mas, sobretudo pela Organização Mundial do Comércio (OMC), que entende que as universidades ou o ensino é uma commodity, portanto uma mercadoria, e que é preciso diversificar dentro da geografia internacional de acordo com a orientação da divisão internacional do trabalho acadêmico. Nesse sentido, no Brasil, teríamos pequenos centros de excelência de pesquisa e um conjunto de faculdades e universidade que consumiriam o conhecimento produzido nos grandes centros brasileiro e internacionais e não produziriam conhecimento algum. Do ponto de vista estratégico de governo, de desenvolvimento e soberania nacional, que é o que o governo atual apresenta como orientação, é deletério um projeto de esvaziamento da universidade, de sua lógica de produção de conhecimento, da formação da universidade brasileira a partir de uma racionalidade economicista. Isto já está em processo, mas é fundamental que seus princípios de ensino, pesquisa e extensão se mantenham, inclusive da perspectiva do próprio governo.
Há uma resistência na universidade à meritocracia, à política de resultado para ascender na carreira e também para ter acesso ao financiamento de pesquisa e extensão?
Cássio Tavares — O problema se assenta no que é o mérito. Nós defendemos a qualidade que pressupõe, no caso de uma pesquisa, a relevância do conhecimento que ela produz, o grau de originalidade que ela tem no conhecimento que produz, uma série de elementos que são internos à vida acadêmica. O problema da meritocracia não é ela se centrar na avaliação. A avaliação é importante e não somos contra. O problema é o critério da avaliação por resultado e qual o resultado que ela avalia. Somos avaliados pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pelo número de artigos que publicamos. Isso não faz sentido dentro da vida acadêmica. É uma aberração. Não somos contra a avaliação nem contra o mérito, mas a meritocracia se aplica a um tipo específico de resultados, não é qualquer resultado, e que não reflete a qualidade acadêmica do trabalho que realizamos.
Fernando Lacerda — A meritocracia está ligada a essa lógica econômica que rege a Educação. Esse critério da Capes de avaliação pelo número de artigos que publicamos e não pela qualidade desses artigos, é uma demonstração cabal desse critério do princípio econômico. Espera-se que a produção do trabalho docente siga a mesma lógica da produção em uma fábrica de automóvel. Se eu produzir dez artigos por ano, mas esses artigos só reafirmarem o óbvio, não significa nada. Os professores que estão ligados a programas de pós-graduação e têm que cumprir metas vão publicar uma obra gigantesca, maior que a do Freud. Mas o significado histórico da obra desses docentes que publicam dezenas de artigos por ano é o mesmo do Freud? É impossível. Essa lógica está pressionando os orientadores a propor aos alunos, ao invés de desenvolverem uma pesquisa de fôlego, que dura até cinco anos, produzirem, a cada capítulo da tese, um artigo científico para ser publicado. A preocupação não é mais a qualidade do estudo, mas a publicação. Essa lógica produtivista resulta no empobrecimento do conhecimento produzido. A lógica da concorrência por editais de pesquisa está dentro de um quadro de precarização. O professor fica desesperado para receber um financiamento do CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa) ou da Fapeg (Fundação de Amparo à Pesquisa de Goiás) não porque tem prazer em competir com outros ou produzir muito. Acaba entrando nessa lógica porque precisa da verba da pesquisa porque o salário do professor não garante a aquisição de livros importados e até mesmo nacionais. Ele garante apenas a sobrevivência do professor no dia a dia. Na minha sala, eu divido com quatro professores um computador e uma impressora, mas, às vezes, falta papel, às vezes, as salas não têm impressora e, às vezes, o professor nem tem sala para orientar um estudante. Eles acabam entrando na lógica dos editais, solicitando verbas para agências externas à universidade, para desenvolver um mínimo de pesquisa. Mas para isso eles precisam assumir o produtivismo. Alguns incorporam essa lógica e outros acabam adoecendo por se subordinar a essa lógica.
Silvio Carlos — Essa lógica produtivista tem tido consequências nefastas na academia. Principal-mente quando se considera a qualidade dessas pesquisas. Nos últimos tempos o CNPq e a Capes têm recebido denúncias de plágio e de autoplágio, quando o professor só muda o título do artigo. Essa política pode ter um efeito contrário a que pretende, que ao invés de estimular a produção de conhecimento com qualidade, acaba prestando um desserviço.
Cássio Tavares — O problema se assenta no que é o mérito. Nós defendemos a qualidade que pressupõe, no caso de uma pesquisa, a relevância do conhecimento que ela produz, o grau de originalidade que ela tem no conhecimento que produz, uma série de elementos que são internos à vida acadêmica. O problema da meritocracia não é ela se centrar na avaliação. A avaliação é importante e não somos contra. O problema é o critério da avaliação por resultado e qual o resultado que ela avalia. Somos avaliados pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pelo número de artigos que publicamos. Isso não faz sentido dentro da vida acadêmica. É uma aberração. Não somos contra a avaliação nem contra o mérito, mas a meritocracia se aplica a um tipo específico de resultados, não é qualquer resultado, e que não reflete a qualidade acadêmica do trabalho que realizamos.
Fernando Lacerda — A meritocracia está ligada a essa lógica econômica que rege a Educação. Esse critério da Capes de avaliação pelo número de artigos que publicamos e não pela qualidade desses artigos, é uma demonstração cabal desse critério do princípio econômico. Espera-se que a produção do trabalho docente siga a mesma lógica da produção em uma fábrica de automóvel. Se eu produzir dez artigos por ano, mas esses artigos só reafirmarem o óbvio, não significa nada. Os professores que estão ligados a programas de pós-graduação e têm que cumprir metas vão publicar uma obra gigantesca, maior que a do Freud. Mas o significado histórico da obra desses docentes que publicam dezenas de artigos por ano é o mesmo do Freud? É impossível. Essa lógica está pressionando os orientadores a propor aos alunos, ao invés de desenvolverem uma pesquisa de fôlego, que dura até cinco anos, produzirem, a cada capítulo da tese, um artigo científico para ser publicado. A preocupação não é mais a qualidade do estudo, mas a publicação. Essa lógica produtivista resulta no empobrecimento do conhecimento produzido. A lógica da concorrência por editais de pesquisa está dentro de um quadro de precarização. O professor fica desesperado para receber um financiamento do CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa) ou da Fapeg (Fundação de Amparo à Pesquisa de Goiás) não porque tem prazer em competir com outros ou produzir muito. Acaba entrando nessa lógica porque precisa da verba da pesquisa porque o salário do professor não garante a aquisição de livros importados e até mesmo nacionais. Ele garante apenas a sobrevivência do professor no dia a dia. Na minha sala, eu divido com quatro professores um computador e uma impressora, mas, às vezes, falta papel, às vezes, as salas não têm impressora e, às vezes, o professor nem tem sala para orientar um estudante. Eles acabam entrando na lógica dos editais, solicitando verbas para agências externas à universidade, para desenvolver um mínimo de pesquisa. Mas para isso eles precisam assumir o produtivismo. Alguns incorporam essa lógica e outros acabam adoecendo por se subordinar a essa lógica.
Silvio Carlos — Essa lógica produtivista tem tido consequências nefastas na academia. Principal-mente quando se considera a qualidade dessas pesquisas. Nos últimos tempos o CNPq e a Capes têm recebido denúncias de plágio e de autoplágio, quando o professor só muda o título do artigo. Essa política pode ter um efeito contrário a que pretende, que ao invés de estimular a produção de conhecimento com qualidade, acaba prestando um desserviço.
Diante da falta de recurso para educação básica, a bandeira da universidade gratuita é legítima no Brasil?
Fernando Lacerda – Essa contradição entre universidade pública e educação básica só existe a partir momento em que estamos brigando para pegar as migalhas que caem no chão. Quando se tem somente o mínimo do PIB nacional sendo investido na Educação acaba surgindo essa disputa e criando contradições como a de estudantes que sofrem com o impacto dessa educação precarizada no ensino fundamental e médio e que chegam à universidade sem a formação adequada e o fato de uma parcela significativa dos estudantes que entram na universidade federal ser proveniente do ensino privado. Mas isso é reflexo de uma política em que o investimento na Educação é muito restrito. A defesa da universidade pública não aparece sozinha, mas dentro da defesa da educação pública como um todo. O Andes defende a destinação de 10% do PIB para a Educação e não para a universidade.
Cássio Tavares — Há um efeito da concepção que o governo tem de ensino e de educação em todos os níveis. A precarização é generalizada. Há um acúmulo de problema de formação que começa desde a educação fundamental, passando pelo ensino médio e universidade. O sistema superior de ensino está incorporando problemas que no passado não eram típicos. Não podemos pensar a Educação em separado porque o sistema de ensino se fecha em si mesmo. A educação básica não tem como ser de qualidade se a educação superior não for e a educação superior não tem como ser de qualidade se a básica não for. Se o professor do ensino básico é mal formado nas universidades como vai haver uma educação básica de qualidade? A qualidade tem que ser do sistema e é preciso pensar em investimento em todos os níveis.
Hugo Leonardo — Não há uma relação desigual de investimento entre ensino superior e ensino básico, há um déficit de investimento na educação pública brasileira ao longo da história daquilo que a gente compreende como projeto de sistema de educação. Se temos uma média de 3% do PIB investido na Educação temos claramente um quadro de desinvestimento na Educação pelo setor público e no inverso do argumento há um investimento maciço do Estado no ensino privado. No acúmulo dos três primeiros meses deste ano temos que em pagamento da dívida pública brasileira foram gastos R$ 365 bilhões, o investimento para a Copa do Mundo tem um orçamento de U$ 17 bilhões e no contrapeso disso se mantém de 2% a 3% de investimento em Educação. O que precisamos discutir não é que o ensino superior é um privilegiado na relação com o ensino básico. Há uma desestruturação do ensino básico até o superior público em favor do setor privado. Parte significativa desse investimento no setor privado que é autogestado, porque tem investimento privado dos estudantes, poderia ser investido no ensino público para que se garantisse qualidade no ensino básico e superior, o que não acontece.
Fernando Lacerda – Essa contradição entre universidade pública e educação básica só existe a partir momento em que estamos brigando para pegar as migalhas que caem no chão. Quando se tem somente o mínimo do PIB nacional sendo investido na Educação acaba surgindo essa disputa e criando contradições como a de estudantes que sofrem com o impacto dessa educação precarizada no ensino fundamental e médio e que chegam à universidade sem a formação adequada e o fato de uma parcela significativa dos estudantes que entram na universidade federal ser proveniente do ensino privado. Mas isso é reflexo de uma política em que o investimento na Educação é muito restrito. A defesa da universidade pública não aparece sozinha, mas dentro da defesa da educação pública como um todo. O Andes defende a destinação de 10% do PIB para a Educação e não para a universidade.
Cássio Tavares — Há um efeito da concepção que o governo tem de ensino e de educação em todos os níveis. A precarização é generalizada. Há um acúmulo de problema de formação que começa desde a educação fundamental, passando pelo ensino médio e universidade. O sistema superior de ensino está incorporando problemas que no passado não eram típicos. Não podemos pensar a Educação em separado porque o sistema de ensino se fecha em si mesmo. A educação básica não tem como ser de qualidade se a educação superior não for e a educação superior não tem como ser de qualidade se a básica não for. Se o professor do ensino básico é mal formado nas universidades como vai haver uma educação básica de qualidade? A qualidade tem que ser do sistema e é preciso pensar em investimento em todos os níveis.
Hugo Leonardo — Não há uma relação desigual de investimento entre ensino superior e ensino básico, há um déficit de investimento na educação pública brasileira ao longo da história daquilo que a gente compreende como projeto de sistema de educação. Se temos uma média de 3% do PIB investido na Educação temos claramente um quadro de desinvestimento na Educação pelo setor público e no inverso do argumento há um investimento maciço do Estado no ensino privado. No acúmulo dos três primeiros meses deste ano temos que em pagamento da dívida pública brasileira foram gastos R$ 365 bilhões, o investimento para a Copa do Mundo tem um orçamento de U$ 17 bilhões e no contrapeso disso se mantém de 2% a 3% de investimento em Educação. O que precisamos discutir não é que o ensino superior é um privilegiado na relação com o ensino básico. Há uma desestruturação do ensino básico até o superior público em favor do setor privado. Parte significativa desse investimento no setor privado que é autogestado, porque tem investimento privado dos estudantes, poderia ser investido no ensino público para que se garantisse qualidade no ensino básico e superior, o que não acontece.
FONTE: http://www.jornalopcao.com.br/posts/reportagens/professores-discutem-movimento-grevista-na-ufg
Edição 1928 de 17 a 23 de junho de 2012
Parabéns, colegas, pela brilhante exposição dos fatos relacionados à greve nas universidades federais! Abraços!
ResponderExcluirMeus parabéns professor Hugo.
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