A
VITÓRIA DE UMA GREVE EXTEMPORÂNEA
“Pode-se matar um homem,
mas não seus ideais. A menos que seu espírito seja destruído
antes” (Chris
Carter)
Os professores universitários
possuem razões de sobra para se orgulharem do Movimento grevista
criado em âmbito local e nacional, tanto no que diz respeito aos
princípios adotados, quanto à metodologia de trabalho. O Movimento
emergiu das bases, cujos valores privilegiaram a independência
político-partidária, acadêmica e de ideias. Em suas atividades
visou claramente perspectivas éticas que priorizassem a qualificação
do debate político. Entretanto, não foi um percurso tranquilo. Como
não poderia deixar de ser, da fertilidade do ambiente acadêmico
emergem divergências, metodologias antagônicas e concepções
diversas acerca da vida institucional e política, aportadas por
áreas diversas do conhecimento.
Embora tardia, foi inevitável
que a greve brotasse aos poucos, conforme a conjuntura e suas
necessidades exigiam. Alguns, convencidos de que não havia lugar
para uma paralisação, defendiam que a greve poderia abortar
negociações que, na realidade, se apresentavam abstratas e
tendenciosas;
instrumentos dos setores do poder que negligenciam a
importância da educação para o país. Para impedir a eclosão da
greve, seus opositores lançaram mão de métodos espúrios a um
embate que deveria ser ético, coerente e transparente.
Ao vislumbrarem os êxitos da
greve, como em uma ação orquestrada, seus opositores tentam
convencer professores, alunos e a comunidade em geral de que os
recursos do governo são escassos; que, a bem da política nacional,
se deveria compreender o sacrifício da categoria como poder de
conversão da educação em moeda clássica do desenvolvimento do
país; entretanto, contraditoriamente, investimentos governamentais
em aparelhos repressivos constituem regra à recessão econômica.
Inúmeras tentativas de
desestabilização do Movimento são arquitetadas pelo governo
ancorado pelos meios de comunicação. Nesse processo, destaca-se uma
organicidade de diferentes instâncias (sindicatos pelegos,
federações, reitorias, partidos) postulando uma política única,
totalitária, subserviente; a prova do conformismo enraizado pela
intolerância à critica que assola a cultura contemporânea. Emergem
dessas instâncias discursos clamando o retorno às atividades pela
excelência do produtivismo meritocrático, do notório saber aliados
à visão administrativa de resultados possíveis e reguladores da
gestão educacional, de métodos e ações que, ao contrário do que
defendem, diluem a visão ampla de educação, instauram em pares a
divisão e a competição, práticas imediatistas e tecnicistas no
âmbito da docência. Em meio às estratégias de desmoralização
do Movimento, nenhuma estratégia é tão enfatizada quanto a
desqualificação daqueles que ousaram enfrentar Leviatã; julgados
como partidaristas extremistas, o rótulo de “andinos radicais”
de “espírito juvenil” nunca foi tão empregado pelos adeptos do
poder, que agem como se as ações políticas não fossem fruto da
produção do conhecimento, do pensamento acadêmico e intelectual.
Na tentativa de desqualificação
do Movimento, subvertem conceitos como representatividade, direito,
legitimidade, democracia e ética. Não bastassem ações que incluem
votações sem discussões, fuga de debates e manobras nas
negociações, os inimigos da greve justificam sua conduta alegando
que a participação em assembleias e reuniões é contraproducente,
irrelevante “perda de tempo”. Nesse contexto, fatos são
aventados e manipulados de acordo com interesses dos que detém a
máquina institucional. Normas, leis, estatutos, regimentos são
interpretados em sentido invertido; emblema da indigência
autocrática. Acordos escusos e negociações à revelia dos
interesses da categoria são firmados entre partes que se delegam
representantes, se utilizando de enquetes tendenciosas, resultados
preliminares duvidosos, promessas de grupos de trabalho conciliados
sem garantias. O limite da greve é sucessivamente questionado; ao
tempo em que deliberações legítimas são negligenciadas
incompreensivelmente.
Acusam a greve de ser
extemporânea, pois, de fato ela o é. Longe de ser prazerosa, esta
não emerge, a priori,
de maneira determinada, manipulada, mas, de situações-limite, ações
individuais e coletivas que confluem em construção, que ousam
rasgar o véu ideológico do poder dominante. De maneira recorrente,
seus objetivos são contraditórios, arriscados e às vezes perigosos
(o caso dos 34 trabalhadores em greve, mortos na África do Sul dia
16 de agosto deste ano reflete esses riscos).
Em que pese o caráter arriscado
da greve seu valor pedagógico compõe a razão de ser do Movimento e
extrapola o trabalho paralisado pelas reivindicações acerca de
temas como condição orçamentária, teto e reposição salarial. O
mérito desta greve está em possibilitar amplas lições oferecidas
por um processo formativo e democrático não direcionado apenas ao
fim último de angariar frutos financeiros. Se assim o for,
escrutinar o ganho salarial como única possibilidade em meio à
precarização do ensino sem que se conceba um sentido mais humano,
justo e emancipatório para a academia universitária torna a análise
limitada.
A greve docente de 2012 é forte
e independente de resultados imediatos é exitosa. Evidentemente, não
do ponto de vista daqueles que tentam impedi-la por motivos meramente
financeiros, político-partidários e pessoais, mas sim, pelo
patrimônio formativo que se consolida para sua estruturação,
sobretudo pelo acúmulo de reflexões e discussões e pelo respeito
às diferentes formas de pensar por ela instaurado. Representa o
prenúncio de uma formação crítica política que há tempos se
fazia ausente nas atividades sindicais, a possibilidade de resgatar a
identidade usurpada por aqueles que, de maneira recorrente, insistem
em retirar do direito constitucional, a capacidade de cada sujeito
falar por si.
Silvia
Rosa Silva Zanolla/Professora da Faculdade de Educação da
Universidade Federal de Goiás/FE/UFG.
Temos que continuar a luta, que hora termina para começar uma GUERRA.
ResponderExcluirNÃO VOU VOLTAR COM O RABINHO ENTRE AS PERNAS, porquê? NÃO SEREI RESILIENTE E TUTELADO POR CORRUPTOS QUE TANTO SANGRAM O NOSSO BRASIL E A ESTE GOVERNO QUE CONTINUA, NÃO POR MUITO TEMPO, NA ADMINISTRAÇÃO DE NOSSO PAÍS.
Não aceito cabrestos e nem freio, a DEMOCRACIA está em choque. Pelo meu BRASIL, minha família, pela democracia, LIBERDADE e cidadania, CONTINUAREI EM GREVE, POIS ACREDITO QUE ESTOU TRABALHANDO PELA PAZ. NÃO AO PT nas próximas eleições. FORA PT.
Facista!
ResponderExcluirO comentário foi direcionado ao Gerson Homem e não ao artigo.
ExcluirWlsgyn,
Excluir"Facista" é quem diz não ao PT?