quarta-feira, 8 de agosto de 2012

DIRETORIA DA ADUFMS REGISTRA NA OAB SUA FALÊNCIA, por Igor Catalão


DIRETORIA DA ADUFMS REGISTRA NA OAB SUA FALÊNCIA


Igor Catalão – UFMS/Câmpus do Pantanal

Aos 46 dias do início da greve na UFMS, fui surpreendido por uma notícia que me indignou inicialmente, mas que posteriormente me trouxe certa tranquilidade. Refiro-me à notícia divulgada no jornal eletrônico Campo Grande News [1] sobre suposta denúncia feita pela diretoria da ADUFMS à OAB/MS. Transcrevo parte da notícia:

“a greve da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), iniciada no dia 21 de junho [sic! A greve começou dia 20], ainda não terminou por conta de divergências e interesses políticos dentro do corpo docente e nos sindicatos envolvidos. A informação é do presidente da entidade, professor Paulo Roberto Haidamus de Oliveira Bastos. Para ele, a negociação avançou com o Governo Federal, mas, as informações foram deturpadas por ‘radicais’, que estariam usando ilegalmente e indevidamente órgãos e o nome do sindicato em diversos meios de divulgação. ‘Confundem a sociedade em nome de seus interesses anacrônicos e antidemocráticos’, disse o professor”.

Um leitor desavisado ou um professor que não tem ido às assembleias até poderia julgar que se trata de uma verdade, mas a própria história recente da ADUFMS, especificamente sua atuação durante a greve, é suficiente para demonstrar o contrário.

Quando a greve foi deflagrada, foram instituídos comandos de greve em diversos câmpus da Universidade, além de um Comando Estadual de Greve dos Docentes da UFMS, cujo objetivo era coadunar as ações durante o movimento paredista. Desde então, coube, como sempre ocorre, aos comandos de greve a convocação das assembleias, que passaram o ocorrer semanalmente (e mesmo duas vezes por semana). A diretoria da ADUFMS, numa decisão absolutamente antidemocrática e evidentemente desrespeitosa para conosco, resolveu decretar que os comandos de greve eram ilegítimos e que não mais se faria presente. Num dos câmpus (no meu câmpus precisamente), um dos membros do comando de greve era um dos representantes da diretoria da ADUFMS. Pergunto: como, num dado momento, o comando é legítimo para contar com membros da diretoria sindical e, num momento seguinte, não é mais legítimo? Desde o início da greve, são as assembleias que têm debatido a conjuntura da greve e decidido a manutenção desta, inclusive depois de anunciada e efetivada a assinatura de um acordo entre a diretoria do PROIFES (com o apoio apenas da UFRN e de partes da UFSCar e da UFRGS) e o governo. A diretoria da ADUFMS (assim como suas congêneres na UFG, na UFC e na UFBA), ocupada por meros capachos da diretoria do PROIFES, passou a cumprir o dever de casa que lhe foi indicado: boicotar, coibir, denegrir o movimento docente da UFMS, construído à sua revelia.

Ora, ora, o senhor Paulo Haidamus, presidente da ADUFMS e secretário do PROIFES, acusa radicais de confundirem a sociedade em nome de seus interesses anacrônicos e antidemocráticos. Quem são esses radicais? São todos os docentes reunidos nas assembleias nos diversos câmpus da UFMS. E quais são esses interesses anacrônicos e antidemocráticos? Reestruturação da carreira, reposição salarial digna e melhoria nas condições de trabalho, ou seja, nada mais que as reivindicações da greve nacional, que o próprio PROIFES dizia defender, mas que rapidamente esqueceu. Mas uma coisa o senhor Paulo Haidamus não pode negar: a diretoria da ADUFMS se ausentou das assembleias convocadas pelos comandos de greve e não convocou nenhuma outra para deliberar sobre o fim ou não da greve, mesmo que o estatuto que rege o sindicato afirme claramente que a assembleia é soberana para decidir sobre deflagração ou fim da greve. E por que razão a diretoria age assim? Porque aqueles que se dizem muito democráticos (Haidamus e companhia) não têm coragem de colocar seu ponto de vista à prova em nossas assembleias, e isso se dá por uma razão óbvia: todas as assembleias até aqui realizadas rejeitaram a proposta do governo e decidiram manter a greve. Se eles estão tão certos de que a maioria dos docentes da UFMS é favorável à proposta infame do governo, por que sumiram?

Volto à notícia sobre a tal denúncia à OAB. Sabemos que ela não tem validade legal alguma, chegando até a ser patética. Trata-se nada mais do que de um ato desesperado daqueles que não sabem mais como manipular a informação e as vontades dos professores da UFMS. Como bem disse Eduardo Rolim (presidente do PROIFES), na reunião do dia 1º de agosto com o governo, nós professores não somos gado e sabemos muito bem analisar a situação atual. Sabemos reconhecer, inclusive, que esta entidade, o PROIFES, e a diretoria da ADUFMS por tabela não têm qualquer legitimidade para negociar em nome dos professores, sobretudo porque, segundo decisão do STJ [2], respeitando preceito constitucional, o ANDES-SN é o único representante dos professores universitários federais.

Para voltar à questão da greve, nossa recusa, dos professores da UFMS reunidos em assembleia, à proposta do governo é simples: queremos reestruturar a carreira. O que o governo nos ofereceu? Aumento salarial numa carreira praticamente idêntica à atual, salvo algumas pioras. Não é preciso nem desenhar para explicar que laranja não é tangerina. A greve na UFMS não acabou porque entendemos que não houve negociação ainda, houve apenas decisões autoritárias da parte do governo, endossadas pela diretoria do PROIFES e pelas diretorias lacaias dos sindicatos a ela associados, como a diretoria da ADUFMS. Entramos em greve porque o Grupo de Trabalho (GT) criado pelo governo para reestruturar nossa carreira não teve nenhum saldo positivo (nenhum!). Permanecemos em greve porque não queremos, mais uma vez, que questões fundamentais da nossa reivindicação sejam postergadas para novos GTs que não têm garantia alguma de êxito.

Agora, num ponto o senhor Haidamus tem razão: a greve ainda não terminou por uma divergência. Nós professores não concordamos com o tipo de universidade e de carreira docente que o governo está tentando nos impor. Ademais, nós não aceitamos decisões de gabinete impostas pelo PROIFES e recusamos sermos manipulados. Temos clareza dos nossos objetivos e estamos lutando por eles.

Enviado por e-mail pelo professor Igor Catalão – UFMS/Câmpus do Pantanal





Um comentário:

  1. O ótimo artigo do Prof. Igor Catalão vem confirmar, mais uma vez, que o “acordo” Traifes/governo não tem qualquer legitimidade sequer nas supostas bases dessa “federação” e. além disso, que o braço governamental no movimento docente está se esfacelando definitivamente. A continuidade da greve, com firmeza e unidade nacional, é fundamental para que o governo, de uma vez por todas, abra negociações que possam merecer esse nome. O que ele fez até agora foi tentativa de imposição. Mas isso está sendo rechaçado nas assembléias do Brasil inteiro.

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